Independente de religião, chegar pedalando ao complexo da basílica de Aparecida é emocionante. Desde que comecei a pedalar (janeiro/2020), esse sempre foi o pedal dos meus sonhos. Recentemente pude viver esse momento, partindo da cidade de Cunha até Aparecida do Norte de bike. Posso te garantir: não é só emocionante e arrepiante. É algo incrível, difícil de definir em palavras.
Por que ir para Aparecida do Norte partindo de Cunha
Quem nos acompanha aqui no blog e no instagram do @TeVejoPeloMundo, já sabe que moramos na cidade do Rio de Janeiro. É muito comum ciclistas irem de algum lugar da cidade do Rio até Aparecida do Norte de bike. Esse pedal deve ser fantástico, mas também muito sacrificante. Além do preparo físico para vencer os mais de 250 km (dependendo de qual lugar da cidade você iniciará o pedal), o mais importante é o preparo emocional para pedalar o tempo todo margeando a Via Dutra e lidando com os perigos que uma rodovia como essa oferece.
Esse é o tipo de risco que ainda não estou pronta para correr. Porém, a vontade de chegar na basílica era grande e quando soube da possibilidade de ir por Cunha (um trajeto lindíssimo, por sinal), na mesma hora decidi que queria fazer esse pedal.
Onde fica a cidade de Cunha
Cunha é uma pequena cidade da região leste do estado de São Paulo. Segundo o Google Maps, está a aproximadamente 300 km de distância da cidade do Rio de Janeiro e 230 km de distância da capital de São Paulo.
Onde pedalar na América Latina
Saindo tanto do Rio quanto de São Paulo, deve-se seguir pela Via Dutra até Guaratinguetá e acessar a SP-171, que te levará até Cunha.
Nós já sabíamos que a cidade era famosa por suas plantações de lavanda. Porém, ao chegarmos lá, encontramos também belas cachoeiras, mirantes e até algumas cervejarias. Todos esses atrativos fazem de Cunha uma pitoresca cidade do interior que merece uma estadia por pelo menos dois dias para curtir suas belezas e encantos. Em breve escreverei aqui sobre os atrativos da cidade. Hoje focaremos na nossa aventura em duas rodas – tenho certeza que você deve estar ansioso(a) para saber todos os detalhes.
Como é ir de Cunha à Aparecida de bike
Quando digo que decidir ir pra Aparecida saindo de Cunha ao invés de sair do Rio de Janeiro, pode parecer que seja um pedal fácil. Não se engane, querido leitor! Preciso deixar claro que não é um pedal simples, muito menos fácil.
Pra vocês terem uma ideia, o L´Étape Brasil (prova credenciada pelo Tour de France – um dos mais respeitados eventos esportivos do mundo) aconteceu durante 3 anos consecutivos em Cunha.
Levamos aproximadamente 3h20 de movimentação no trajeto de ida de Cunha para Aparecida, com paradas para hidratação. As subidas são tranquilas, sem muita inclinação (mas é preciso que você esteja preparado pra elas). Já a volta foi bem mais pesada. Além das subidas com maior inclinação, o sol forte castigou bastante e já estávamos cansados da ida. Foram mais de 4h de movimentação, com paradas para hidratação e uma parada para forrar o estômago, pois não tínhamos almoçado.
Nossa experiência de Cunha à Aparecida de bike
No dia anterior já deixamos tudo pronto para não correr o risco de esquecer nada. Acordamos às 6h, tomamos café da manhã na pousada com calma e saímos para nossa aventura por volta de 7h30 da manhã.
Manutenção importante antes de viajar com a bike
Quando saímos da pousada, o tempo estava bem fechado com bastante neblina, mas a previsão era de sol. Como toda cidade de serra, o dia em Cunha geralmente amanhece assim mesmo. Por isso, não se assuste e nem desanime, caso isso também aconteça com você.
Em menos de 5 minutos já estávamos na rodovia SP-171 (que liga Cunha até a cidade de Guaratinguetá) e o céu já começava a ficar azul.
Nesse momento existem duas opções de pedais. Para a direita o destino é a via Dutra, na altura de Guaratinguetá. Virando à esquerda a SP-171 te leva até Paraty. Dizem que esse é um dos pedais mais difíceis do Brasil e, com certeza, está na nossa lista.
Ida de Cunha à Aparecida de Bike
O início do pedal é bem tranquilo com subidas que vão ganhando elevação aos poucos. Pode não parecer, mas você estará subindo e rapidamente a sua temperatura corporal começará a subir, mesmo se estiver frio.
Alerta 1
Ao sairmos da pousada estava muito frio. Eu estava de manguito, pernito e ainda coloquei um corta vento para aquecer. Nos primeiros 10 km, já comecei a sentir bastante calor, mas preferi continuar pedalando para não quebrar o ritmo. Foi um grande erro, pois minha pressão (que normalmente já é baixa) baixou ainda mais e tive que parar imediatamente para tirar o corta vento e baixar a temperatura do corpo.
Desse episódio, tiro duas lições:
- começou a esquentar, tire imediatamente qualquer tipo de casaco para se refrescar;
- tenha sempre na bike um sachê de sal. Em caso de queda de pressão, ele vai ajudar bastante.
Passado o susto, seguimos nosso caminho. Dessa vez sem corta vento e com a blusa aberta para entrar um ventinho gostoso.
Importante lembrar
Fizemos esse pedal em ritmo tranquilo, com o objetivo de curtir o caminho e as paisagens com calma.
Depois de aproximadamente 23 km e algumas subidinhas, fizemos uma parada no Tudo da Roça, um local na beira da estrada que vende diversas guloseimas, possui banheiro e umas mesinhas com vista para estrada e muito verde.
Fizemos essa parada mais pelo susto da queda da pressão – em condições normais daria pra seguir tranquilamente. Acabou que essa foi nossa única parada até chegar em Guaratinguetá, pois não sentimos necessidade de parar outras vezes. Mas, caso seja necessário, existem outros lugares pelo caminho para um lanche rápido ou para ir ao banheiro.
Como é a serra na ida de Cunha para Aparecida
São 44 km de muito sobe e desce, mas a boa notícia é que a sensação de descida é maior que a de subida. Já imaginou a volta, né? rsrs.
No geral, o asfalto da estrada é muito bom e, em grande parte, possui acostamento. Tenha atenção quando estiver no acostamento da estrada, pois existem alguns buracos e pontos com acúmulo de sujeira e areia.
Passamos por diversas placas na estrada chamando a atenção para pedestres e ciclistas. Achei isso muito bacana! Percebemos que essa estrada é muito utilizada por ciclistas (cruzamos com vários durante o caminho).
A serra é cheia de lindas paisagens, o que fez do nosso passeio ainda mais incrível. Para quem gosta de velocidade,, é um verdadeiro paraíso, mas que deve ser curtido com muito cuidado – algumas curvas são bem fechadas e perigosas.
Outro ponto que requer bastante atenção são os motoqueiros. Acredito que praticantes de motovelocidade usem a serra para treinar. Eles passam do nosso lado voando e as motos fazem um barulho ensurdecedor. Levei um susto na primeira vez que passaram por mim.
Tinha um trio andando por um trecho da serra que deve ter ficado o dia todo por lá. Eles cruzaram conosco diversas vezes na ida e diversas vezes na volta. Tenha bastante atenção!
Via Dutra ou por dentro de Guaratinguetá?
Quando você vai de Cunha até Aparecida de bike, chegará um momento do percurso em que será necessário tomar uma importante decisão. A SP-171 termina na Via Dutra e, nesse momento, existem duas opções para chegar até a basílica.
A primeira é seguir pelo acostamento da Via Dutra e a segunda é seguir por dentro da cidade de Guaratinguetá. A princípio, tínhamos decidido seguir pela Dutra por ser uma reta, porém muitas pessoas nos disseram que não era seguro por conta da falta de acostamento em alguns trechos.
Depois de tantos avisos, decidimos seguir por dentro de Guaratinguetá. O caminho é bem tranquilo – tem até um trecho com ciclovia – e levamos 20 minutos até a entrada da basílica. Não tem como errar, no final da SP-171 atravessamos a Dutra através de um acesso por baixo da rodovia e seguimos as placas.
Passamos pela tradicional feirinha de Aparecida e aproveitamos para comprar uma pequena imagem de Nossa Senhora. As lembrancinhas e objetos religiosos na feirinha são bem mais baratos do que dentro da basílica, Portanto, se quiser levar alguma lembrança, aproveite a passagem pela feirinha para comprar.
Chegando na basílica
Como fomos por dentro de Guara, entramos na basílica pelo portão de acesso traseiro, onde geralmente as pessoas entram a pé.
Como eu disse no início, chegar na Basílica é uma emoção sem tamanho, até mesmo pra mim que não sou católica. Eu imagino para os católicos o quão emocionante deve ser pedalar de Cunha até Aparecida e cruzar os portões da basílica.
A parte traseira da basílica é muito bonita. Mesmo que você chegue pela frente, não deixe de dar a volta para conhecer também essa parte.
O que fazer no complexo da Basílica
Se estiver com fome, existem vários restaurantes na região. Porém, quando estamos pedalando preferimos comer apenas lanches e, por isso, optamos por não almoçar.
Caso você esteja em um grupo pequeno, como nós que estávamos em duas pessoas, leve corrente e cadeado para deixar a bike presa. Nos finais de semana, por exemplo, não é possível passar pela imagem de Nossa Senhora, nem visitar o interior da basílica levando a bike.
Como não tínhamos levado corrente nem cadeado, tivemos que revezar para tomar conta das bikes.
Se atente aos horários das Missas na Basílica caso você queira assistir, pois é necessário chegar com uma hora de antecedência para entrar na igreja. Vale lembrar que durante a semana é mais tranquilo.
O Presépio de Aparecida
O presépio é lindíssimo e vale muito a pena visitar. Todas as imagens foram construídas em cimento e possuem tamanho real.
O presépio encontra-se dentro do pátio do santuário e as dezenas de esculturas retratam diversas representações como o nascimento de Jesus, por exemplo.
De dentro do presépio, a vista do santuário é muito bonita. Então vale a visita, nem que seja para apreciar a vista. Vale lembrar que é possível passear por toda a área do presépio junto com a bike.
O santuário possui diversos sinos que, quando tocam, dá para ouvir por toda parte do complexo. Se você estiver por perto quando eles tocarem, vale a pena observar, pois é de arrepiar.
Do lado esquerdo da basílica existe uma entrada de acesso para visitar a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Como fomos num sábado, estava uma filinha e não podia passar por lá com a bike. Vale a pena enfrentar a fila que é rápida, pois – além de chegar bem pertinho da imagem – dá para contemplar o lindíssimo interior da basílica.
Aparecida do Norte possui muitos atrativos que valem uma visita. Porém, como fizemos bate e volta, não tivemos tempo para conhecer muito.
Mas, se você tiver mais tempo escolha os pontos turísticos ao redor da basílica de Aparecida que você deseja visitar e aproveite com calma sua visita.
Aparecida para Cunha de bike
Hora de voltar para Cunha. Acabamos ficando mais tempo do que tínhamos previsto no santuário e, como estava um sol bem forte, já imaginamos que a volta seria mais difícil. Vimos muitos ciclistas saindo da basílica pela Dutra. Conversamos com um policial, e fomos informados que, daquele trecho até a entrada da SP-171, a Dutra possuía acostamento em todo o percurso e que era bem tranquilo. Diante disso, decidimos voltar para Cunha pela Dutra.
Tudo é muito bem sinalizado. Fizemos o retorno num viaduto e depois seguimos pelo acostamento. São aproximadamente 8 km até o acesso da SP-171. Achei o acostamento realmente bem tranquilo, bem largo e sem buracos. É claro que, quando caminhões enormes passam, a bike chega a balançar, mas logo logo você se acostuma e, como o trecho é pequeno, achei bem tranquilo. Mas, toda atenção é pouca.
Em aproximadamente 20 minutos terminamos o trecho da Dutra e entramos na SP-171. Pra mim foi um alívio, pois apesar de me sentir segura em todo o acostamento da Dutra, parar de sentir os carros passando a mais de 100km/h do nosso lado é muito bom.
Serra de Guaratinguetá para Cunha
Quando chegamos na SP-171, já deu uma boa tranquilizada, pois tínhamos passado por ela mais cedo e já conhecíamos o trajeto. Apesar do caminho ser o mesmo, o pedal é completamente diferente, pois a volta possui uma altimetria acumulada bem maior.
Confesso que, em alguns momentos (como o da foto acima), só de olhar a inclinação já era desesperador. Mas, fique tranquilo: pra quem tá acostumado com subidinhas não é nada impossível.
Nossa volta foi debaixo de um sol muito forte e decidimos não economizar na ingestão de água. Para não corrermos o risco de ficarmos desabastecidos, paramos na estrada para encher as caramanholas e aproveitamos para comer algo, já que não tínhamos almoçado.
Comemos dois empadões deliciosos e aproveitamos para molhar a cabeça e lavar o rosto. Essa paradinha fez toda diferença, pois saimos dali renovados.
No alto da serra encontramos uma biquinha onde pessoas param o carro para pegar água. Ou seja, se for preciso, você pode contar com essa água fresquinha.
Tiramos a foto acima quando paramos na biquinha, perceba que a subidinha é boa, mas, nada impossível.
A volta de Aparecida pra Cunha de bike tem mais trechos sem acostamento, mas achei bem tranquilo, pois a estrada é boa e não possui muitos buracos.
A SP-171 faz parte da Estrada Real e em diversos momentos encontramos as sinalizações do Caminho do Ouro. Se você tiver o passaporte da Estrada Real, pode carimbá-lo no centro de Cunha.
Últimos 10 km
Faltando uns 10 km para chegar na nossa pousada, fomos agraciados com um lindo por do sol. Acabamos pegando uns 30 minutos de estrada no escuro. Isso não estava previsto, mas por cautela, levamos lanternas nas bikes e foram elas que nos salvaram, pois a iluminação da estrada não era boa.
Fica a dica! Mesmo que você não pretenda pedalar à noite, sempre tenha farol e luzes sinalizadoras.
Chegamos na pousada por volta de 19h, cansados mas muito felizes.
Hospedagem em Cunha pra quem quer pedalar
A cidade possui diversas opções de hospedagem, mas se o seu propósito for pedalar, o ideal é ficar hospedado próximo à estrada que inicia o pedal. Dessa forma, não será preciso cruzar a cidade de bike.
Nós ficamos na Pousada e Restaurante Clima da Serra, que possui estacionamento, piscina e café da manhã. Gostamos bastante, mas é difícil achar disponibilidade no Booking. Por isso, vou deixar mais duas opções que estavam bem perto de nós e até mais próximas do início do pedal. A primeira e a mais próxima da estrada é a Pousada Vista Verde. Não ficamos nela porque quando vimos sua localização, já tínhamos feito as reservas na nossa. Uma outra opção é a Pousada Cheiro da Terra, que está localizada entre as duas que citei acima.
Espero que tenham gostado da dica. Qualquer dúvida deixem aqui nos comentários que responderemos assim que possível. Te Vejo indo de Cunha até a Basílica Aparecida de Bike!
17 Comentários
Não conheço o Santuário de Aparecida, mas imagino que chegar a Aparecida de bike deve ser um plus na visita. Afinal, teve todo um esforço envolvido. Sobre Cunha só conhecia o lavandário, mas ainda não pessoalmente. Parabéns pela disposição!
É realmente ainda mais incrível chegar de bike.
Obrigada 🙂
Olá Lu e Vinícius. Li com a Norma e viajamos juntos pelas estrada de Cunha até a Basílica. O relato irá ajudar outras pessoas que estão buscando se aventurar por essas paisagens. Sugiro que vocês participem do encontro de cicloturismo que acontece em Campos do Jordão no feriado de Corpus Christi. Encontro que busca fomentar a troca de experiência entre pessoas que viajam de bicicleta. clubedecicloturismo.com.br
Acredito que vocês tenham muito o que contribuir.
Olá queridos,
Fico muito feliz que vocês gostaram do post. Valeu pela dica do clube.
Beijinhos
Gratidão pela dica, eu e meu esposo vamos seguir suas dicas e 01.01.2022 estaremos nessa grande aventura!!!
Olá Ana,
Que forma maravilhosa de começar o ano.
Ótima viagem pra vocês 🙂
Que legal ese passeio de bike entre Cunha e a basílica de Aparecida do Norte! São duas cidades muito conhecidas e o percurso deve ser bem divertido.
Uau! que experiência incrível, emocionante e desafiadora! Fiz este percurso, porém, de carro. a paisagem é linda em Cunha e amei conhecer o santuário!
Olá!!
O percurso é lindo mesmo 🙂
Que aventura incrível! Adorei as dicas para ir de bike até o Santuário de Aparecida do Norte. Lindo esse percurso saindo de Cunha.
🙂
Que visual incrível dessa pedalada!! Aparecida realmente é arrepiante, chegar lá dessa maneira deve ter sido uma experiência única
Olá…
Com certeza!! É inesquecível
Que texto incrível sobre como chegar até a Basílica de Aperecida do Norte de bike. Obrigada pela partilha
Eu que agradeço pelo comentário 🙂
Eita, que experiência incrível ir de Cunha a Aparecida de bike. Já indico a viagem a Aparecida e já estive lá 3 vezes, mas você fez algo bem diferente e eu imagino a emoção. Parabéns pela coragem e pelo sucesso do projeto.
Olá Norma,
Realmente foi uma experiência incrível 🙂